terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Calendário

Cansei de olhar para estas paredes
Dolorosas e tão beges que entristecem os olhos
Cansei de tingi-las com fumaças acinzentadas
Expelidadas por meus cigarros assassinos
Cansei de te supor no jardim e ouvir tua voz
Voz que não era tua e sim de minha privação

Cansei! Simplesmente cansei

Cansei de olhar pela janela
E por entre os recortes dos vidros estilhaçados
Cansei de imaginar-te novamente em meus braços
Anestesiada de carícias e chamas que não se apagam
Cansei, nada havia senão porções de legítima saudade
Incrustada na doída melancolia dos meus fragmentos

Cansei. Cansei de presumir que era mera questão de tempo

Cansei do general entrincheirado em seus lamentos
Que não te arrebata e nem te faz faminta de nossas entranhas
Cansei da nostálgica herança deixada neste teu retrato esmaecido
Fadigado com as beges paredes e o fim dos dias em meu quarto
Cansei tanto que hoje te faço apenas um número que assinalo em Xis
Ponto de partida para uma data a ser esquecida em meu calendário


Copirraiti 2010Dez
Véio China©

Nenhum comentário:

Postar um comentário