sábado, 26 de novembro de 2011

Emaranhados

Em denso nevoeiro
A opacidade dos faróis do carro
Projetam-se denunciando eu e você

É noite e ela é doce e murmura amores
Diante um vento que açoita fugazmente
Seres abrasados nas juras do fogo lascivo 

Há conspiração e a complacência duma lua que espreita
Olhares ansiosos diante a prostituta conivência da noite
Que eternamente se enamora daquilo que resiste além-sol

É desta forma que a madrugada acolhe as sombras amantes  
Nós num campo neblinado bailando em ritmo compassado
Envoltos nas carícias e pelos tons das inebriantes melodias


Enquanto ao redor, obscuros e em tocaias
Lobos de olhares rubros e  presas afiadas
Maldizem os vícios de imensurável paixão


Copirraiti 26Nov2011

Véio China©


domingo, 6 de novembro de 2011

Se ( Para Olga & Elisa )

Ah se o riso fosse tão fácil
Ao esmagar as pútridas feridas
Algumas até na cor do anil

Ah se a dor não fosse tão triste
Escarnecendo as linhas da face
Com seus cinco dedos em riste

Ah se a vida não fosse tão efêmera
Levitando prantos, fazendo surpresas
Na timidez das esparsas alegrias

Ou quando não
Florindo em asas de tempo
Trazendo vento e sons de lamento

Enfim, seriam esses os motivos
De negar-me o doce acariciar
Das minhas tantas cicatrizes?

Copirraiti 05Nov2011
Véio China©

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Goodfellas

Ah saudade!
Saudade dos teus longos cabelos azulados
Refletidos ali nas luzes negras
Em raios coloridos e neons
Te projetando como sombra de parede

Ah saudade!
Saudade dos teus dentes, alvos,
Da pegada perfeita
Da tua boca mordiscando meus lábios,
Possuída do mais denso desejo

Ah saudade!
Saudade de mim e de você
E do amor que não mais sinto, roubado
Enclausurado no refém que me tornei
Nos labirintos do teu negro olhar

Copirraiti ago2011
Véio China®

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Mooca Mia

Para Mano Véio.
...

Nascido na Mooca
lobo de fogo
guerreiro solitário
suas lembranças
ainda são crocantes
tais quais as pipocas
dos cines Aliânça
Ouro Verde e Patriarca
a experiência foi dura
nostálgico chorou
quando o cine Roma
fechou suas portas
com o filme Roberto Carlos
em Ritmo de Aventura.
Malandro da Mooca
criado nas gangs de rua
sobreviveu a era da navalha
e brilhantina
longe de ser um homem
calculável do dócil rebanho
fruto da melhor argamassa
do rio Tamanduate
ainda mantem
de sua identidade antiga
o velho gingado e paletó aberto
o lenço de seda no pescoço
para cegar navalhas inimigas
nosso herói aspira á unicidade
enquanto a grande maioria
tomava seu cuba libre
ele bebia e até hoje bebe
seu Blood Mary!



**Uma homenagem do fantástico poeta Bento Calaça para o seu mano, Véio China


http://vocaroo.com/?media=vSxpDu9v6VBls1dnN

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Follow Me

Siga-me
Esqueça essas feridas que marcam a sua pele
Essas cicatrizes tão visíveis que pretendem
Constranger

Siga-me
O ferro quente queima e arde
E eu sei da intolerância e o prazer
Que muitos sentem aos nos ferir

Siga-me
Eu posso ver suas marcas
Contorná-las com dedos
Percorrer cada linha, cada dor

Siga-me
Pois elas nos acompanharão
E eu gostaria de curá-las, mas não posso
Pense nelas como obstáculos no caminho

Siga-me
Eu também tenho os meus espinhos
Ferimentos causados por pedras e estradas
Repletas de ciladas e que não soube contornar

Siga-me, e apenas
Acaricie as minhas cicatrizes como afagarei as suas
Não há e jamais haverá ferro em nossas mãos
Nelas apenas o amor de quem não sucumbiu

Siga-me!


Copirraiti 29Mai2011
Vpeio China©

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Fórceps

¨
O que escondes atrás destes teus olhos
E na tristeza de um sorriso tão meigo?
Parece-me haver neles tantos apegos nostálgicos
Que sou capaz de pressenti-los donde estou
Todavia, o desconhecido não me faz decifrá-los

O que está ao meu alcance é aquilo que me permites ver
Não há enganos, pois bem sei,
Que apesar dos teus muitos desencantos
Reflete-se tanta vida neste teus olhar que o justo é se ter feliz
Entretanto percebo; o medo escraviza e não ousa revelar-se

Ah! Será que és ilusão? Gostaria de saber aonde e como te tocar
Descobrir a fenda, a lacuna, um ponto de acesso e transgredír-te
Aproveitar-me da loucura e profanar-me no santo em sua cruzada
Exorcizando a fórceps as feridas impolutas dum olhar melancólico
Que me enfeitiçou sem medos ou  quaisquer ranços de compaixão


Copirraiti 17Mai2011
Véio China®

terça-feira, 17 de maio de 2011

À Deriva

 


Elemento da natureza
Sou matéria do capricho
Do macho e da fêmea
Numa noite de amor e libido

Água, Fogo Terra e Ar,
Beba, se aqueça, ande e respire
Foi o que me ensinaram sem saber
Se haveria salva-vidas dentro de mim
 
Não! Não há e jamais houve
Fora de mim apenas os mares que singro
Ondas calmas e bravias que me naufragam
À deriva, seduzindo-me a não submergir
 
Copirraiti Mai2011
Véio China©
 
 http://vocaroo.com/?media=vUUIQPvWMBewGua8P

segunda-feira, 2 de maio de 2011

A mentira dos cortesões

Você, língua de fogo, lábios carmim
em boca obscena
a murmurar indecências
dessas que me contaminam.

Eu, labareda incandescente
infectado pelo instinto e desejo
daquilo que é prenda e se esconde
sob o seu justo vestido vermelho

Nós, a rudeza dos seres ordinários,
que se perdem em arco-íris insensível,
e que se esvai das cores que avivam o amor.
Nada mais que viajantes insólitos

[nos delírios das rotas que nos são doentes]

Músculos, artérias e o sangue bombeado
pelo esforço e nos beijos sucumbidos
em bocas salivadas de libido, mas que hoje,
lamentam aquilo que se supôs legado

[a paixão que jamais deveria fenecer]

Enfim, somos o que se repudia, mentiras,
passageiros ensandecidos e vulgares
a viver de um passado que nos devora
quando nos vê extenuados e possuídos

[E o pior, nos chamando de “meu amor”]


Copirraiti 01Mai2011
Véio China®

domingo, 24 de abril de 2011

Os olhos de Irie

Não, não me olhes assim
Me furtam do mundo

Estes teus olhos verdes

Que luzem endiabrados
Feito tardes ensolaradas
Onde caço esmeraldas

Não, não me fites assim
Pois desnuda-me por completo

E eu sinto vergonha

Não de você e nem do meu corpo
Mas da insistência do olhar que cravas em mim
Sem eximir-me da veleidade de desbravá-lo


Copirraiti Abr2011
Véio China©

Homenagem a Iriene Borges e ao enigmatismo do seu olhar.
Abraços, Irie!

Portas ( Para Olga)

Portas estão sempre a me fitar
E no namoro eterno desvendo
Cada um dos tons do seu bater

Uns batem forte e ressoam a saudade
Que se despede num rangido triste
Desses que não se consegue evitar

Outros, sussurram meigos nas horas imprevistas
Pois as portas entreabertas, mesmo que doloridas
Perpetuam na eterna pergunta do pra que vieram

Contudo, apesar das lacerações, portas são  portas  
Madeiras que cedem à esperança no comando das mãos
Cientes apenas de como abrem e quando se fecham

No infindável calejado das expectativas


Copirraiti Abr2011
Véio China®

quarta-feira, 30 de março de 2011

Suturas


Há coisas que não quero falar
E deixo adormecer
Com a mesma sonolência de um cão vadio
Que indolente me espreita da soleira da porta
Parecendo tudo saber...

Há coisas que não quero falar
Desse meu jeito rude e entediado
Navegante abstrato das coisas cotidianas
Plantado e ceifado como a flor da cana
Num universo onde nem pretendia estar

Há coisas que não quero falar
Não há o porquê decifrar entrelinhas
E nem saber se há verdades ou mentiras
Talvez os lábios e o dom da minha fala
Exilaram as lágrimas que se converteram ao pó

Há coisas que não quero falar
Prum mundo de retalhos, agulhas e fios de nylon
Pra quem me ouvisse,  mas não há mais a voz
Não há mais nada, apenas o cão que vejo adormecer
Sem me sorrir como na noite passada.


Copirraiti Mar2011
Véio China®

domingo, 6 de março de 2011

O aprendiz de Camões.

Dormes com cem  reis na barriga
E de tua boca cheia dos dezoito
Cachorros que latem
Nada se ouve se não falácias

 Esqueças de vez o Aurélio e Houaiss
Uses moderadamente como fonte de consulta
E jamais para o embuste a que te serves:
Obsoletas, enfadonhas e eruditas charadas

Poeta, se Camões  tu fosses
Fatalmente odiarias dicionários
Pois saberias que a erudição feneceu no tempo
Cedendo espaço para um mundo modernizado

Contudo, continuas tão antiquado que não percebes
Que marionetes manipuladas sapateiam e aplaudem
As teclas  mofodas de naftalina com que escreves
Afinal, narcisista, te quedas àqueles que te ovacionem

 Portanto meu caro aprendiz camoniano
Não te iludas com o afago paulistano
Ou os braços abertos e o tapinha na costa
Do Cristo Redentor e do povo carioca

Toma teu prumo e te atina
Que para a língua portuguesa
Mais que lagostas e suco de framboesa
O povo quer arroz, feijão e farofa à mesa


Copirraiti 2011Mar
Véio China®

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Masoquismo

Passados
Não se extinguem à meia noite
Mas na simplicidade
da água saudade
Que o piscar dos olhos propricia

E o passado também se lê no amor que morre
Por vezes assassinado de tão necessário
Que tê-lo sepulto em cova profunda
Abaixo do concreto das todas emoções
Torna-se vital questão de sobrevivência

Contudo, humano que somos
Não esperemos que após fenecido
O amor alce vôo à galáxias distantes
Ou asse em alumínio e fogo brando
Das azeitadas panelas do diabo

Todavia impõe o imprevisível bom senso
Fazer-nos retornar ao fim do terceiro dia
À caça de lazaras fendas nos veios do cimento
Pois comum a este nobre e profano sentimento
É ressuscitar-nos para outros tantos sofrimentos


Copirraiti 2011Fev
Veio China ®

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Dolo

Armado
Das dúvidas diárias
Inverso
Aos contos das fadas
Transformado
Em cimento das obras
A sepultar
Legitimidades de um dia


Copirraiti Fev2011
Véio China©

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A insustentável leveza do ser (By Véio China)

Alvidrado

Sinto-me leve
fração pintalgada
branco amarelada
do mais tenro algodoal

Tudo me seria alvissareiro

Se não fosse me ver plantado
Em base de ribanceira de oceano
- Me tonteio com a altura -
E certamente o tombo me afoga

Afinal, pra quê tanta leveza?
Para não ver o meu fim melhor seria
Não ser a sensível rama de algodão
Mas sim doze begônias de chumbo

Óh não! Não! Por favor, não!
Ao acaso estarão conjecturando
O mesmo insensato  pesadelo
Que há após o encanto do sonho?

Estanquem o oxigênio em vossos pulmões
Travem o excesso de ar no tubo traqueal
Serrem os dentes e selem o contorno labial
Assim ventania não vaza na cavidade bucal

Clemência é o que vos peço!
Apesar de todas as ansiedades
Que lhes imputam as vontades
De me verem plainar num tango 

Não, definitivamente não me assoprem
Quedo-me à inexorável ação do vento
Arrependo-me, é claro, ontem e hoje
De estar plantado como algodão-da-praia

Afinal, não sou tão insustentável assim.
E o chão que deveras me guarda
São as mais lisas pedras da costa
Que sorriem, pois sabem do meu fim


Copirraiti Fev2011
Véio China®

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Caixão e Vela Preta

Ah seu moço eu me lembro das sete moças
Com flores nos cabelos, prometidas donzelas
Fecundadas por mim
Um viajante de boa aparência e muita falação

Pra que fui mexer com poderosos donos de latifúndios?
Se aperrearam e silibaram “esses” entre os dentes
Foi então que aprendi; Com nordestino não se mexe,
Inda mais coronéis abufelados tal guizo de cascavéis

Às custas dos meus sorrisos e alguns bons trocados
Fui logo avisado pela quenga do Beréu do Aleijado
“Te acunha rapaz” Que teu couro ta à prêmio!”
Que nem gado selado, eu era um sujeito marcado

À troco de três ternos riscados
E dum relógio Ômega falsificado
Eu vexado sumi pra caixa prego
Touro jamais deveria ser castrado

Sete longos meses se passaram
E da quenga que confiava recebi uma carta:
A filha de coronel Fogaça embuchara
Portanto prematura nasceu a minha cria

Era uma linda menina de olhos negros iguais aos meus
Mas não a conhecia, pois só fugia, dia e noite, noite e dia
Depois disso minha vida foi tomada de silêncio e estranhei
Pois a quenga jamais respondeu as cartas que mandei

E foi assim numa tarde de tempestade alucinante
Diante a fúria dos raios e trovões dum lugar distante
Que a bala do jagunço me alcançou
O corpo combaliu e não mais tive como fugir

........................................


Sete horas do mês sete dezessete era o dia
Sete velas de três de quartos, sete chamas em sacristia
O riso do diabo faz tremer Virgem Maria
Minas Gerais velava o meu corpo indigente



Copirraiti Ago2010 – Jan2011
Véio China©