quarta-feira, 30 de março de 2011

Suturas


Há coisas que não quero falar
E deixo adormecer
Com a mesma sonolência de um cão vadio
Que indolente me espreita da soleira da porta
Parecendo tudo saber...

Há coisas que não quero falar
Desse meu jeito rude e entediado
Navegante abstrato das coisas cotidianas
Plantado e ceifado como a flor da cana
Num universo onde nem pretendia estar

Há coisas que não quero falar
Não há o porquê decifrar entrelinhas
E nem saber se há verdades ou mentiras
Talvez os lábios e o dom da minha fala
Exilaram as lágrimas que se converteram ao pó

Há coisas que não quero falar
Prum mundo de retalhos, agulhas e fios de nylon
Pra quem me ouvisse,  mas não há mais a voz
Não há mais nada, apenas o cão que vejo adormecer
Sem me sorrir como na noite passada.


Copirraiti Mar2011
Véio China®

domingo, 6 de março de 2011

O aprendiz de Camões.

Dormes com cem  reis na barriga
E de tua boca cheia dos dezoito
Cachorros que latem
Nada se ouve se não falácias

 Esqueças de vez o Aurélio e Houaiss
Uses moderadamente como fonte de consulta
E jamais para o embuste a que te serves:
Obsoletas, enfadonhas e eruditas charadas

Poeta, se Camões  tu fosses
Fatalmente odiarias dicionários
Pois saberias que a erudição feneceu no tempo
Cedendo espaço para um mundo modernizado

Contudo, continuas tão antiquado que não percebes
Que marionetes manipuladas sapateiam e aplaudem
As teclas  mofodas de naftalina com que escreves
Afinal, narcisista, te quedas àqueles que te ovacionem

 Portanto meu caro aprendiz camoniano
Não te iludas com o afago paulistano
Ou os braços abertos e o tapinha na costa
Do Cristo Redentor e do povo carioca

Toma teu prumo e te atina
Que para a língua portuguesa
Mais que lagostas e suco de framboesa
O povo quer arroz, feijão e farofa à mesa


Copirraiti 2011Mar
Véio China®