sábado, 28 de agosto de 2010

DELIRIUM TREMENS

O copo de vinho,
Mais rubro, quase negro
Não amaina a minha sede
E no bar, de propriedade dum amigo português
Outros bêbados amigos apenas riem e vomitam
Blasfêmias que os alcoólatras gostam de expelir

- Deus sentou ao meu lado!
Vangloria-se Afrânio com a fala mole
- Deus, juro, cheira à Paco Rabanne!
Murmura Albertoni, um bisneto de italiano
Para eles Deus não vai além dos três dedos de uma dose
Eu apenas ouço, confuso, enquanto a vida insiste no bar

Não há horizontes, então entorpeço-me de bebidas fortes
Seduzido que sou pelos destilados de teores mais alcoólicos
Sem volta, estou bêbado e procuro Deus por todos os lados
Olho por todo bar, de cima abaixo, à mesa ao lado um sujeito
De feição sensata e ar de poeta, desses que recitam em sarau
Consome taças de vinho tinto e uma  farta porção de bacalhau

A cena poderia ser sagrada, se não me fosse tragicômica
As pernas carregam toneladas, inevitável, ergo para urinar
E tudo gira ao redor - DELIRIUM TREMENS - exclamo
O estranho ouve em silêncio e me fita com olhos tão azuis
Que num instante eu quis que aqueles olhos fossem  meus
Pois parecia humanizar a noite trazendo a paz necessária

Levanta-te e anda! – Surpreendentemente ele sentencia –
O tom é autoritário, logo, nele a falsa piedade não exala
Depois crava o olhar no copo e flerta com a sua bebida
Eu o olho pasmado quando traga outro longo gole grená
Havia fé em meu equilibro, e não me pesavam as pernas
E o milagre veio plácido ao levitar sobre mar de cervejas

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