domingo, 29 de agosto de 2010

Restauração

Não te afastes de mim
Eu vivo e sobrevivo em você
Não me deixes sentir o carrego da idade
E nem me ver num velho solitário
Tragando nos balcões dos bares da cidade
Coisas que me entorpecem, fugazes

Não te apartes de mim
Necessito mais que o latejo
Ou teu sangue defecado em meu coração
Urge-me desfruir o tempo que resta
Desprendido da melancolia de camas albergadas
Liberto dos dedos enluvados que me procurem algum mal

És o derradeiro das ínfimas coisas que sobejaram
A cria que faz-me crer e perdurar no engano
De que o tempo não passa e o fardo que não pesa
É necessário mais que cristais mentirosos dissimulados em diamantes
Por isso é inevitável entregar-me a este teatro de cortinas cerzidas
Trazendo no desbotado da memória todos os atores que interpretei

Assim, quando os holofotes do palco se amesquinharem
E o carmim das luzes alumiarem as saídas laterais
Quero o inesperado tornar o meu silêncio tão soturno quanto dos demais
E o reconhecimento há de vir tímido para o júbilo deste peito ator
Depois, incandescentes ecoarão os aplausos que jamais serão meus
E sim deste garoto consentindo em mim e que me faz reviver

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