domingo, 29 de agosto de 2010

Desalento

O espelho que me olha intimida-me a carcaça:
Muitas vezes flagra-me permutando peles que nem cobra,
Afrontando-me na nefasta idolatria que nutro ao logro
Eu não consigo fugir, e ele, insatisfeito questiona-me
Quanta vezes sepulta o que hoje ressuscita? -
Infindáveis vezes – Diz-me o reflexo antecipando-se a mim,
Estilhaçando-me com suas verdades.


Porém o vento assopra-me e faz com que siga em frente
E eu vou mas evito olhar para trás.
Contudo, seduzido eu volto e refaço a linha da minha vida
Poderá um míope-astigmata distinguir a reta antes que se torne curva?
Assevero-me nas vistas e constato os pífios caminhos que aniquilei
A visão não se encontra tão danificada que não se dê conta
Das indiferenças com as quais sobrevivi.


Portanto algo não se situa bem neste ambiente de devastação
Então dou por falta das lágrimas que minha lâmina decepou
E visto-me dum aspecto melancólico de quem não se cabe à forma
Um sorriso cego e triste de quem não mais vê o sol dos dias carmim.
Uma agonia sem fim ver-me ali refém destas coisas que não me são gratas
Desfazendo sob o enrugado dos dedos os nós das amarras perfeitas,
Destruindo as planejadas armadilhas de tudo que eu julgava íntegro


Contudo a cada dia um sorriso há a menos em minha vida,
Eu precisava apenas ter compreendido todas as dez linhas que li.

Nenhum comentário:

Postar um comentário