terça-feira, 31 de agosto de 2010

Relicário


Hoje te reencontro à meia luz
E sob os meus dedos enrugados
Que nos escombros do passado
Remexem-te lenta e docilmente
Na velha caixa de madeira de lei

E neste momento e bem mais que ontem
Flagro-te na alma da mulher apaixonada
Que murmura em manuscritos delicados
Misturados ao mais fino papel perfumado
Do teu inesquecível Chanel número cinco

E me apego neste peso do passado
Onde tudo me ofertaste, e recusei
No pouco sonho que te abrasavas
Pois no reino de fadas encantadas
Querias ser rainha e eu fosse o rei

Mas assim não foi e assim confesso
Velho, tolo e rudemente amargurado
Que à cômoda do quarto penumbrado
Revê as duras saudades transbordadas
Num melancólico relicário abandonado

Um comentário:

  1. Véio China

    Você sempre fala:"Eu não sou poeta!"

    Como Não???
    Você é a poesia...Sorte da mulher que conseguiu mergulhar no coração carinhoso do Véio.
    (amo esse poema)

    Beijo
    Sua doce Mar.

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